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Repúblicas para idosos

Lunes, 01 de Agosto de 2011
Recortes de prensa

Uma alternativa para espantar a solidão

Repúblicas para idosos, como a Moradia João Paulo II, proporcionam independência e estimulam a convivência de seus moradores.

Bastante comuns entre os estudantes, as repúblicas deixaram de ser privilégio dos mais jovens. Idosos com um certo grau de autonomia também estão descobrindo nesse tipo de residência comunitária uma forma de passar longe dos asilos, adquirir maior independência e ainda melhorar a autoestima e a convivência em grupo. Por outro lado, é preciso revezar-se na hora de limpar a casa, contribuir financeiramente e seguir regras coletivas – como em qualquer república.

Em Curitiba, a Moradia João Paulo II, no bairro Mercês, atua na modalidade de república. Mantida pela Ação Social do Paraná, a instituição foi criada em setembro do ano passado. A casa abriga sete idosos sem residência e em situação de vulnerabilidade social. Eles são encaminhados pela Fundação de Ação Social e contribuem individualmente com R$ 100 ao mês. Além disso, são independentes e podem criar a sua própria rotina.

“Quando se vai para um lugar e fica fechado, não se tem vida”, diz Irineu Montanarim, 73 anos, que consertava máquinas de escritório e hoje mora na república. Ele costuma se ocupar com as atividades da residência – como cozinhar de vez em quando, já que os moradores recebem refeições prontas. Dentro do grupo, os idosos se dividem na limpeza e na arrumação da casa. Às sextas, fazem reuniões em grupo para tratar de assuntos diversos.

Trabalho em grupo

Segundo a assistente social Roberta Kisy Lourenço, o espírito de trabalho em grupo é sempre incentivado, já que muitos residentes viviam na rua e eram acostumados à solidão. Ela tem observado a melhoria da qualidade de vida dos moradores da casa. “São idosos autônomos, capazes, lúcidos. No asilo, a pessoa tem alguém que faça tudo por eles. Aqui, eles se cuidam. Você resgata a autonomia e a autoestima porque você mesmo cuida das suas coisas”, analisa.

Para o aposentado Paulo Hauresco Filho, 63 anos, um ponto positivo de se viver em república é o surgimento de amizades. No entanto, o maior desejo dele é ter a família por perto. “Infelizmente, agora não tem como”, lamenta. Paulo, que morava nas ruas e pedia dinheiro na rodoviária, acabou perdendo contato com a família. Ele calcula ter visto a filha pela última vez há mais de 13 anos. Hoje ela mora em Portugal. O idoso mantém contato apenas com o irmão mais velho. Outro sonho que Paulo mantém vivo é o de tornar-se guia de turistas. “Conheço todos os pontos turísticos de Curitiba até Paranaguá”, orgulha-se. Em 2009, ele fez um curso de atendente de agência de viagem, com 100% de frequência, e agora quer seguir a profissão.

Já o morador Amilton Bitten­­court, 65 anos, pretende continuar fazendo seu artesanato. Ele aprendeu a montar agendas com restos de papel e papelão. “Passei por tantos lugares. Aqui a gente tem condições de vida, paz, tranquilidade”, desabafa. Devido a problemas com álcool, Amilton saiu de casa e durante 25 anos morou em pensões, casas de recuperação e na rua.

Os moradores, no entanto, dizem sentir falta de mais atividades e muitos acabam ficando em casa durante o dia. A instituição incentiva a participação em ações culturais, passeios e cursos externos, mas pretende criar mais projetos internos. Para mudar o quadro, a república busca voluntários de diversas áreas.

Serviço:
Quem tiver interesse em participar pode entrar em contato com a instituição pelo telefone (41) 8527-1380. A casa fica na Rua Júlio Perneta, 259, em Curitiba.

ASILAMENTO

Municípios não oferecem casas alternativas
A maioria dos municípios do Paraná não tem casas alternativas ao asilamento para idosos, segundo observa a promotora Rosana Beraldi Bevervanço, coordenadora do Centro de Apoio às Promotorias de Proteção aos Direitos do Idoso do Ministério Público do Paraná (MP-PR). A instituição, em parceria com o Conselho Estadual dos Direitos do Idoso e com a Associação dos Municípios do Paraná, desenvolveu um levantamento nas cidades e constatou essa falta de opções.
“A avaliação parcial é assustadora porque a maioria esmagadora dos municípios do Paraná não tem forma alternativa. A gente sabe que tem muito idoso que não precisaria estar asilado por ausência de forma alternativa ao asilamento”, avalia a promotora.

Casas-lares
O Ministério Público do Paraná defende a criação de instituições como casas-lares e centros nos quais os idosos passam o dia fazendo atividades, voltando à noite para casa. “O asilamento acaba retirando o idoso de toda a convivência social, de suas referências culturais, de suas memórias, dos seus pertences”, enumera Rosana Bevervanço. O MP está tabelando os dados da pesquisa para divulgá-los ainda no segundo semestre.

Fonte: Gazeta do Povo 21/7/211.