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Unicamp está à frente de pesquisa nacional sobre fragilidade do idoso

Viernes, 14 de Diciembre de 2007
Envejecimiento y vejez

Jornal da Unicamp
Edição 383 - 10 a 16 de dezembro de 2007

Investigar as condições de fragilidade do idoso é o objetivo de uma pesquisa nacional junto a aproximadamente 8 mil indivíduos de vários pontos do país, tendo Unicamp, USP de Ribeirão Preto, UFMG e UERJ na coordenação do trabalho que envolve outras instituições e conta com financiamento do CNPq. A rede denominada Fibra (referente a fragilidade do idoso brasileiro) começa as pesquisas de campo já nos primeiros meses de 2008 e o estudo deverá estar concluído em três anos.

Pesquisas começam no início do ano que vem

"O embrião deste projeto nacional foi uma linha de pesquisa interdisciplinar conduzida em nosso Ambulatório de Geriatria, na Faculdade de Ciências Médicas. Ela focaliza a fragilidade dos idosos sob a ótica de várias especialidades além da medicina, como psicologia, ciências sociais, fisioterapia, nutrição e odontologia", afirma a professora Maria Elena Guariento, coordenadora da Disciplina de Medicina Interna e do Ambulatório de Geriatria, vinculados ao Departamento de Clínica Médica.

Desde a criação do Ambulatório, em 2004, a FCM vem reforçando o ensino da especialidade de geriatria na grade curricular da graduação. A partir do próximo ano, a unidade abrigará o Curso de Pós-graduação em Gerontologia, até agora oferecido na Faculdade de Educação e cujos alunos participam intensamente das pesquisas no ambulatório. (Veja matéria nesta página).

Segundo Maria Elena Guariento, o primeiro propósito do projeto Fibra é reconhecer a condição de fragilidade do idoso a partir de biomarcadores e de indicadores sociais e psicológicos, vinculando-a com enfermidades crônico-degenerativas, incapacidade funcional, déficit cognitivo e outros problemas comumente associados ao envelhecimento. "Estão em curso inúmeras avaliações similares no mundo, que já permitem conhecer melhor o perfil do idoso frágil".

O Fibra vai recorrer aos indicadores propostos pelo grupo de pesquisa liderado pela professora Linda Fried, da Universidade John Hopkins (EUA), que caracteriza a fragilidade do idoso como uma síndrome. A queixa de exaustão não associada a enfermidade crônica ou a efeito colateral de alguma terapêutica, e a perda de peso inexplicável – superior a 4,5 quilos ou a 10% do peso corporal no último ano – são dois dos indicadores.

Os outros são a diminuição da velocidade de marcha e da força de preensão, o que indica perda de força em membros inferiores e superiores, e também a diminuição do consumo energético. "São todos indicadores de fragilidade e a detecção dos mesmos contribui para que se adotem medidas preventivas ou para reverter a sua evolução", diz a docente da FCM.

A professora Anita Liberalesso Neri, coordenadora do pólo Unicamp da Rede Fibra e da pós-graduação em gerontologia da Faculdade de Educação, observa que as alterações biológicas apontadas anteriormente são inerentes ao processo de envelhecimento. "A condição de fragilidade, entretanto, é caracterizada pelo agravamento e pela ocorrência simultânea de pelo menos três dessas perdas, que são preditivas de quedas, incapacidade, hospitalização e morte em dois a três anos".

Aspecto social – Anita Neri acrescenta que o acúmulo de perdas pode levar o idoso à depressão e ao isolamento social, diante da incapacidade de continuar realizando atividades do dia-a-dia e do temor de se locomover sozinho. "Verifica-se uma espiral descendente de perda de energia. É como os próprios idosos dizem: 'Agora, é só ladeira abaixo'".

Do ponto de vista sociológico, uma outra questão a ser verificada é a relação da fragilidade do idoso com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Com este propósito, foram incluídos no mapa do Fibra cidades como Parnaíba, no sertão do Piauí, que tem um dos mais baixos IDHs do país, e a pequena Ivoti, na serra gaúcha, de população pacata, longeva e gozando de boa qualidade de vida.

Um dos pressupostos da pesquisa é que fatores culturais que determinam estilos de vida e formas de enfrentamento se combinam com os determinantes socioeconômicos, dando origem a formas peculiares de lidar com a fragilidade. Assim, parte dos idosos frágeis é capaz de preservar a atividade e o envolvimento social, apesar de todas as dificuldades.

"Uma hipótese correlata a ser verificada é de que idosos que dispõem de mais recursos pessoais agarram-se mais à vida, são mais motivados e persistentes diante das adversidades e são mais capazes de acionar e de se relacionar com sua rede social. Não existem dados a esse respeito na literatura nacional. Será uma contribuição importante também para a literatura internacional, em que há escassez desse tipo de informação", diz Anita Neri.

Comparações – Os cerca de oito mil idosos acompanhados no Fibra terão idade acima de 65 anos, apesar de o brasileiro ser considerado idoso a partir dos 60 anos. A justificativa, segundo a docente da FE, é a importância de poder comparar os dados brasileiros com os dos países desenvolvidos, que adotam os 65 anos como idade inicial da velhice. "Queremos saber se o que é verdadeiro para eles, vale também para nós. Além disso, o Brasil logo atingirá o mesmo marco legal daqueles países".

Caberá à Unicamp coordenar o levantamento do perfil dos idosos de Belém (PA), Parnaíba (PI), Campina Grande (PB), Montes Claros e Poços de Caldas (MG), Ivoti (RS), Concórdia (SC), Campinas e Ermelindo Matarazzo – município paulista com grande contingente de migrantes nordestinos que vieram para a construção civil nas décadas de 1960 e 70. "Vai ser interessante contrastar os idosos que aqui ficaram com aqueles que voltaram para a terra natal e com os que não emigraram para o Sul", comenta Ana Neri.

Os centros de excelência como a Unicamp vão nuclear os trabalhos das instituições presentes nas cidades abrangidas pelo Fibra. Mas as instituições locais é que treinarão alunos de pós-graduação e de graduação para a coleta de dados e para a orientação dos idosos com relação à sua saúde e à oferta de serviços nas regiões, embora a pesquisa não contemple o tratamento dos participantes. A fase atual é de aquisição de equipamentos, treinamento de pessoal e calibração dos protocolos.

Anita Neri ressalta a importância desta calibração em função das diferenças socioculturais entre uma cidade como Ivoti, onde parte dos descendentes de alemães mal fala o português, e a cidade de Parnaíba. "O pessoal do Piauí quis incluir no questionário um enunciado sobre o uso de motocicletas como meio de transporte. Estranhei que idosos andassem de moto. Ocorre que, não podendo pagar por um táxi, eles usam moto-táxi. Num país de dimensões continentais, o Fibra torna-se uma pesquisa transcultural".

A formação e a produção
em geriatria e gerontologia

A população de idosos no Brasil deve dobrar nos próximos 15 anos. Diante do aumento progressivo da expectativa de vida do brasileiro, que vem confirmando a previsão dos demógrafos, o Departamento de Clínica Médica da FCM, dentro da área de Medicina Interna, iniciou há alguns anos o processo de implantação do Ambulatório de Geriatria e está incrementando o ensino da especialidade na graduação.

"O aumento desta população vai causar um impacto significativo na saúde e é preciso oferecer aos futuros profissionais da área médica uma boa qualificação para a assistência aos idosos. Essa formação qualificada não se restringe ao especialista em geriatria, mas a todos os médicos", justifica a professora Maria Elena Guariento.

O Ambulatório de Geriatria, segundo a docente, já se tornou uma referência tanto para as unidades básicas da Região Metropolitana de Campinas, como para os outros ambulatórios e serviços do Hospital de Clínicas da Unicamp. "Buscamos e buscaremos nos integrar com colegas de outros ambulatórios que atendem idosos, como os de Psiquiatria, Neurologia, Reumatologia e do Caism, entre outros".

Além da inter-relação das diferentes áreas, Maria Elena ressalta a formação de uma equipe multiprofissional dentro do Ambulatório, com cada especialista atuando a partir do seu campo de conhecimento, mas buscando sempre uma interface com os demais, oferecendo uma assistência integrada ao idoso. A equipe conta com a colaboração dos professores Maria José D'Elboux Diogo, Fernanda Aparecida Cintra, Regina Ruscalleda, Milton Lopes de Souza e Jamiro Wanderley.

Gerontologia – O Ambulatório de Geriatria tem sido um campo fértil para as pesquisas da pós-graduação em gerontologia, que por sua natureza interdisciplinar reúne alunos e professores e de vários campos da saúde. "Os estudos têm resultado em dissertações, artigos publicados em revistas científicas e participações em congressos", diz a professora Anita Neri.

Este envolvimento com o Ambulatório contribuiu para a transferência do Curso de Pós-graduação em Gerontologia para a FCM, depois de dez anos na Faculdade de Educação, onde obteve o nível máximo (nota 5) para mestrado no sistema de avaliação da Capes. "É um curso consolidado que tem, entre seus quinze professores, dez da área médica. Por isso, achamos esta mudança auspiciosa", conclui a docente da FE.

Dois livros – Um dos produtos da pós-graduação em Gerontologia é o livro Qualidade de vida na velhice: enfoque multidisciplinar, organizado por Anita Neri e lançado em setembro deste ano. Ele traz a colaboração de vários professores sobre temas inovadores, como a importância de variáveis psicológicas para o bem-estar dos idosos, a sua saúde bucal e as opiniões e preconceitos acerca do processo de envelhecimento de pessoas portadoras de deficiências física e mental.

Anita Neri também foi convidada a organizar o livro Idosos no Brasil – Vivências, desafios e expectativas na terceira idade, lançado no dia 29 de novembro, em São Paulo. Segundo ela, o livro é baseado na mais importante pesquisa já desenvolvida no Brasil sobre opiniões, preconceitos, expectativas e experiências envolvendo idosos, numa parceira entre a Fundação Perseu Abramo e o Sesc (Serviço Social do Comércio).

A partir dos dados gerados nesta pesquisa populacional de porte nacional, envolvendo idosos e não-idosos, pesquisadores de várias instituições brasileiras escreveram sobre temas como saúde, preconceitos e atitudes, relações sociais, escolaridade, renda, raça e etnia, feminização da velhice, educação, direitos, cidadania e políticas públicas relacionadas com a questão do envelhecimento.